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terça-feira, 26 de junho de 2012

Natação na gravidez


Assim que descobri a gestação, com 4 semanas e um dia, dois gineco/obstetras que trabalham comigo, em conversas rápidas de corredor, me proibiram de nadar até a 12a semana. Por coincidência já tinha uma consulta marcada com outro médico (horrível) que acabou reforçando a proibição. 
Já havia lido sobre isso na época do aborto (leia aqui) e sabia que eles estavam um pouco errados, mas na posição de paciente eu não podia questionar. Fui até a academia levar o atestado, comuniquei o professor e chorei ali mesmo. Já não bastava todo o medo de tudo (leia aqui), ainda estavam proibindo a minha terapia.
Com 9 semanas, quando iniciei o pré-natal com o obstetra que me acompanharia (assunto para outro post!), ele imediatamente me liberou para nadar. Lindo!! No dia seguinte, eu estava na piscina.

Basicamente, se a mulher sempre foi sedentária, não pode querer se transformar numa atleta durante a gravidez, certo? Porém, se a mulher já tem na sua rotina uma prática esportiva de baixo impacto, pode (E DEVE!!!) continuar. Ainda mais no meu caso, com excesso de peso  e tendência a engordar. Foi isso que li nas minhas buscas e ouvi do professor-doutor-meu-obstetra. E tem mais: nada de ginastiquinha aquática molinha de gestantes. Pode nadar de verdade!! “O feto que está bem implantado não escorrega. Já o feto que não é viável não vinga mesmo que a mulher permaneça em absoluto repouso”.

Recebi uma super orientação do Marcus (leia aqui), o querido professor: estavam proibidos o nado borboleta (meu preferido) por forçar o abdomen e peito (quando a barriga começasse a pesar um pouco) por forçar o quadril, as viradas olímpicas, além de subidas e descidas sem o auxílio da escada. Achei justo. As séries no início seriam mais curtas, sempre com controle da frequência  cardiaca, que não deveria ultrapassar 140 bpm. Evitaríamos o uso de palmar. Tudo muito coerente.

Estou certa de que a natação contribuiu demais para a minha sanidade mental, para eu aguentar meu cargo de gerente na SES/DF até o último dia e para que eu não tivesse quase nada de edema, mesmo no final da gravidez. Às vezes eu começava a segunda feira um pouco inchada, mas era só nadar e já voltava ao normal.

Toda mulher, para o seu próprio bem, deveria poder questionar essas proibições que se transmitem entre as gerações (incluindo as de médicos) e acabam virando leis que vão contra a literatura científica mais atualizada. Infelizmente nem todas tem o conhecimento (e disposição) que eu tive para procurar um atendimento pré-natal coerente e atualizado. A história da minha gravidez teria sido outra se eu tivesse abandonado a piscina.

Meu filho nasceu num sábado. Nadamos três vezes por semana até a quarta feira anterior ao parto. Quanto orgulho eu tenho disso!


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma nova chance. (ou G2P0A1)


Ou ainda: Sobre porque não divulguei minha gravidez no Facebook.

Na escrita médica, uma mulher que engravida pela primeira vez é G1. Se o bebê nasce G1P1. Se evolui com aborto é G1P0A1. NA sua segunda gestação será G2P0A1, e assim por diante.
Nunca havia pensado muito sobre isso. Mas o que acabei percebendo é que esse “A1” acaba mudando tudo. Ele é passado, mas não sai da vida da pessoa. E isso porque o meu aborto foi precoce, espontâneo, não tinha gênero nem nome, e eu não precisei escondê-lo de ninguém. Poderia ter sido bem pior.
O fato é que ao se descobrir grávida pela segunda vez, após 5 meses, a detentora do título de G2P0A1 (no caso eu) jamais conseguiria reagir como as outra mulheres. Como quando era apenas G1. Como a sociedade espera.

Quando em 10 de agosto de 2011, no banheiro do postinho, eu vi as duas fitinhas vermelhas naquele teste de urina que fiz só por desencago de consciência, com um dia de atraso numa menstruação que sempre atrasava, eu não pulei de alegria nem chorei de emoção. Difícil alguém assumir isso, mas eu entrei em pânico. Eu chorei de medo.  Não estava sentindo nada, não estava esperando, não estava tentando como as pessoas tentam.  Não estava pronta para passar por tudo aquilo de novo.
Dessa vez não pensei em escrever cartinha, comprar sapatinho e fazer uma surpresa para o marido. Liguei para minha mãe aos prantos e confesso que não era choro de felicidade. Eu estava apavorada. Passei no Sabin lá de Recanto das Emas mesmo pra fazer o Beta e fui pra casa. O marido ligou no caminho, contei. Ele não ficou feliz. Ele também tinha medo. Tínhamos muito medo.

Não esperem que a mulher marcada pelo "A1", se tiver metade dos pés no chão,  reaja como as outras quando descobre a sua segunda gravidez.

Meu Beta estava baixo daquela vez em março, 300 e pouco com 5/6 semanas. Nesse dia veio 382, com 4 semanas e um dia. Era maior, mas não era o suficiente pra mim. Devo ter feito uns 4 exames depois desse, só par aver o número subir… Só parei porque percebi que era loucura.
(A minha mãe) Quem na ocasião do aborto falava que a gravidez iria para frente e tudo ia dar certo, agora chamava o episódio de “apenas uma gravidez bioquímica”, tentando minimizar tudo o que eu havia sentido.

Tive medo de que a gravidez não terminasse bem durante quase todos os dias que seguiram. Primeiro o medo de acordar de novo com o sangramento. O medo de ir ao banheiro e ver sangue no papel. O medo de não ouvir o BCF no exame, o medo de não completar as 12 semanas… Enquanto todos nos queriam eufóricos, o marido e eu estávamos apreensivos. Lembro quando ele me disse, depois de ver o feto numa ultrasonografia, com formato de bebê e coração batendo: “Se a gente perder o Buguinha dessa vez, eu vou ficar muito, muito triste”. Teve inúmeras crises de asma. Por semanas, ele assustava cada vez que recebia um telefonema meu.
Então veio o medo de começar a comprar as coisas. Medo de contar para as pessoas. Medo de escolher o nome e ao invés de perder “um feto” perder “o Joãozinho”. É diferente o que você sente por um e pelo outro.

Eu tive medo de perder a gestação até quase o dia do chá de fraldas, que aconteceu menos de um mês antes do parto.

Fui repreendida por não ter ligado para as pessoas para contar a novidade. Por não ter (pasmem!!) anunciado no Facebook.

Quem tinha que saber, soube rápido. Quem esteve comigo, mesmo que de longe, no episódio anterior teve direito à notícia. Mas quem esteve longe, eu deixei mais distante ainda. Uma distância que com o passar do tempo confesso que ficou até confortável.

Não sou assim (dessas que colocam foto do Beta positivo no Facebook). Nunca fui assim com as coisas estritamente pessoais. E isso antes de eu ganhar meu rótulo  vitalício de “A1”.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Porque não levei meu filho na campanha de vacinação.

Resolvi (lutar contra meu TOC) interromper a cronologia das postagens para não perder a chance de escrever quando algum tema vem à cabeça.  

No ultimo sábado (16/06/2012) teve início mais uma campanha de vacinação contra a poliomielite. E…  eu não levei o meu filho!


OK, é recomendação do Ministério da Saúde E da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que todas as crianças menores de 5 anos devem ser vacinadas nas campanhas, eu sei. Mas, como bem disse um colega, recomendação não é lei e devemos refletir sobre elas, principalmente quando acumulamos as funções de mãe E profissional de saúde, nessa ordem.

Deixo claro aqui que de forma alguma sou contra as campanhas, a Medicina Preventiva e a Saúde Coletiva. Acho que as campanhas são muito importantes para manter o país livre de doenças erradicadas (como a poliomielite)  e de epidemias de outras, como rubéola, meningite e as demais que motivam campanhas. Além disso, são um ótimo momento para identificar crianças com vacinação desatualizada, porque a mãe pode não dar a mínima para o cartão de vacinas do filho, mas se a Rede Globo mandar vacinar, ela vai, e a gente aproveita e atualiza.  
Porém, analisando o caso específico do MEU FILHO,  considerei que esse não era o momento para uma dose de VOP (Vacina Oral contra a Poliomielite – ou “Sabin”) e faltei ao encontro com o Zé Gotinha.
Minha opinião PESSOAL sobre as campanhas de VOP é que elas são tão "maciças" que perdem um pouco da coerência. Quando uma ação é muito massificada, ela costuma perder a chance de considerar as particularidades entre os indivíduos… O que pode ser (o mais prático) bom para a Saúde Coletiva, mas não é o que desejo para o MEU FILHO.

Todas as informações citadas a seguir sobre a VOP constam do Manual de Normas de Vacinação da FUNASA/MS, mais precisamente das páginas 27 e 28.

REAÇÃO VACINAL: “Podem ocorrer quatro a 40 dias após a vacinação acidentes pós-vacinais (paralisias flácidas), na proporção de um caso em cada 2.390.000 primeiras doses e um caso para 13 milhões do total de doses aplicadas.”

Significa que é rara, certo? Raríssima. Principalmente depois da primeira dose. Como pediatra, tive chance de ver dois casos, ainda na residência, porque esses pacientes iam parar no HC mesm. Mas pergunte para a mãe da criança 2.390.000 o que ela acha disso… A estatística é com base em DOSES APLICADAS, e não em crianças vacinadas. Ou seja, quanto mais doses, mais risco, embora ainda raro. Claro que a vacina é super importante, faz parte do calendário básico, e não deixarei meu filho sem a vacina. Mas considero que uma criança NO MEIO DAS DOSES desse calendário não precisa ser exposta a mais uma.

ESQUEMA BÁSICO: “Esquema em vacinação de rotina: três doses a partir dos dois meses de idade, obedecendo a um intervalo de 60 dias entre as vacinações. Uma quarta dose deve ser aplicada aos 15 meses de idade. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias”. 

Juro que já vi, tanto no SUS quanto em consultório particular, crianças que receberam a dose de rotina no meio da semana e a dose da campanha no final de semana, DA MESMA SEMANA. A maxima foi uma criança que vacinou no domingo com o Zé Gotinha e na segunda voltou ao Posto para a rotina: DUAS DOSES EM DOIS DIAS. Ah, gente, isso não faz o menor sentido… Isso é tratar a pobre criança como um número numa meta de campanha. Sim, porque o funcionário que está ali a aplicar as gotas tem a ordem de VACINAR GERAL, sem nem olhar quando foi a última, ou quando será a próxima dose, por causa dessa regra:  “Em campanhas maciças, a vacina é administrada nas crianças com menos de cinco anos de idade, independente do estado vacinal prévio.” Legal para a Saúde Coletiva, né? Mas não para o MEU FILHO.

Resumindo a situação particular aqui de casa: O Vinny havia recebido a VIP (Vacina Inativada/Injetável contra a Poliomielite, ou “Salk”), aquela que se faz em clínicas (fiz no Sabin) na segunda feira, dia 11, ou seja, 5 dias antes da campanha…  É, Vinny, não foi dessa vez que você conheceu o Zé Gotinha. Mas não faltarão oportunidades.
O Ministro da Saúde determinou que a VOP será substituida pela VIP a partir de agosto (Leia aqui), mas isso é motivo para outro post.

OBS: Dedico esse post a algumas queridas coleguinhas aqui do DF que acreditam que ser pediatra e mãe é a mesma coisa...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

G1P0A1


Um dia desses li uma frase mais ou menos assim:

“Quer saber quantos amigos você tem, ofereça uma festa. Quer saber a qualidade deles, fique doente.”

Eu fiquei doente.

Em meio a toda a empolgação com a natação e uma nova viagem à Selva Amazônica (Ariaú - como eu amo!!), onde já haviamos estado em 2008, descobri que estava gravida. Vou poupar-me dos detalhes.
Tentávamos (sem neuras) há pouco mais de um ano.
Então, em 22 de março de 2011, eu sofri um aborto espontâneo.
Acordei com sangramento. Era MUITO sangue. Como médica, ali eu já tive a certeza de que aquela gestação não evoluiria. Mas a certeza foi só minha. Ainda havia no US a imagem de um saco gestacional pequeno para o tempo de amenorréia e isso bastou para que os que não me ouviam ficassem repetindo “calma, vai dar tudo certo”. COISA MAIS IRRITANTE. Não sou pessimista como meu marido, mas nesse caso a questão era ser realista.
Me fechei em casa com o marido, as cachorras e algumas ligações de familiares. E só. Chorei como nunca, todos os dias. Quase fiz um bexigoma de tanto que evitava ir ao banheiro encontrar todo aquele sangue. Ao invés de fazer o repouso, no terceiro dia de MUITO sangue saí andando sozinha e atravessei o bairro pra ver se acabava logo com aquilo. Era como se tivesse um tumor. Nesse momento, como mágica, a melhor amiga ligou. Alguém lá em cima gosta muito de mim para eu merecer a amizade da Mariana.
A família do marido nem ficou sabendo (ou teriam me indicado a cura para todos os males: Rivotril) para evitar o drama desnecessário.
Nenhum dos novos amigos brasilienses que haviamos feito até então apareceu, nem pra notar o meu sumiço. Ah, mas se marcássemos um churrasco…
Então o mais curioso aconteceu. De vez em quando eu entrava no Youtube para escutar uma música triste (tipo essa) e compartilhava no Facebook com alguma frase reticente tipo essa:

"E todas as pessoas que falam pra me consolar
Parecem um bocado de bocas se abrindo e fechando
Sem ninguém pra dublar" 

Claro que eu estava pedindo ajuda. Só não percebia quem não queria.
Então um a um eles começaram a aparecer. Quem? Os paulistas!!! Mesmo os menos chegados perceberam que algo de ruim estava acontecendo, e me ligaram, um a um… 

“Ju, está acontecendo alguma coisa?”. 
- Sim, está, e eu estou sofrendo e eu preciso falar e chorar e ninguém aqui é amigo de quem está chorando.

Exceção para a querida amiga Marisa, paulista de Bauru mas morando aqui, que foi a única que me ofereceu um ombro para chorar, literalmente. Te amo, querida! E a Pequena Rita, que me ligou lá de Floripa exatamente no dia dos acontecimentos. Feelings…

O episódio foi muito, mas muito triste mesmo. Aquelas coisas que a gente sabe que acontece, sabe que acontece muito, mas inconscientemente não sabe que pode acontecer com a gente.  E acontecer numa terra estranha, de amizades superficiais e gente que foge de vínculos, longe da família… é pior ainda.

Serviu pra ver que quem realmente gosta da gente está mesmo lá para os lados de Campinas, e a partir daí foi para manter a amizade deles que essa pessoa que vos escreve canalizou todos os seus esforços.

Enquanto escrevo olho meu filho lutando contra o sono no carrinho ao meu lado… Mas essa é outra história, que tinha que ser precedida dessa triste aí de cima.