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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tem dias em que a gente cansa de ser mãe.

Tem dias em que a gente cansa de ser mãe. Hoje foi um desses dias aqui. 

O grande problema é que a partir do momento que você tem uma criança e ela não veio com nenhuma babá incluida no kit, você não pode chegar em casa de um dia exaustivo e simplesmente (fazer como certas pessoas e tomar um Rivotril) tomar um banho e desaparecer. 

A pessoa chega meio estranha da terapia porque resolveu enfrentar suas próprias crises. Encontra o marido numa outra que talvez esteja além da sua medíocre compreensão. Era tanta coisa da terapia pra pensar... Um casamento pra consertar. Queria poder estudar. Tem uma festa de 3 anos que precisa sair do mundo das idéias. Os blocos de concreto para erguer um muro em parceria com a vizinha. Tenho um jantar para improvisar e aquele misterioso gato invasor pra conquistar.

Mas a real é que eu tenho um filho de 2 anos e 10 meses. Uma criança adorável. Só que hoje ele decidiu que a única migalha de tempo que eu teria pra mim seria a sagrada uma hora e meia de psicanálise.




Hoje tivemos birra porque ele...
... não queria lavar a mão depois de usar o banheiro,
... queria comer sem auxílio,
... queria brincar com o garfo,
... queria me dar um tapas no meio da birra e eu reclamei,
... tirei o prato dele da mesa,
... queria comer com auxílio,
... não queria entrar no banho,
... não queria sair do banho.  

Levei 6 tapinhas, daqueles que doem tanto no coração machucado. Usamos todas as técnicas. Não cedemos. Mudamos o foco. Não perdi a paciência. Repeti os mantras "eu não gostei", "a mamãe não vai te bater porque a mamãe te ama". TUDO EM VÃO. 

Desejei mais que tudo que aquilo parasse. Imaginei ter ao menos o direito de mandar um abraço para a Cantareira e tomar um banho quente pra esquecer por um momento da vida.

BUÁAAAAAAA... "Quero tomar banho com ela!!!" BUÁAAAAAAAA... 

Lá se foi meu direito sagrado a 10 minutos de relaxamento. Fui com ele aos berros, esperneando. Marido tentou me dar 5 minutos. Ele se recusou a sair. Chorei. Choramos todos. Estou chorando até agora.

Pensei nos pais que de repente largam tudo para trás e vão tentar uma nova vida, voltando pra essa a cada 15 dias... Mais uma vez aumentei meu respeito absoluto pelas mães solteiras que seguem em frente e vencem a batalha.

"Mamãe, não fica triste.", disse ele, nu na banheira e do alto da sua sabedoria, agora olhando fundo nos meus olhos.

Ele dormiu em paz depois de uma conversa sobre ninguém bater nele e como ele ficou triste quando levou uma mordida do coleguinha. Eu estou em pedaços.

Talvez tenha sido a volta à escola depois de de um feriado prolongado. Talvez nosso filho de 2 anos também esteja cansado de ser uma criança e de toda a ansiedade que isso representa. Talvez estejamos todos cansados de tanta realidade.

Boa noite, filho. Eu te amo mais do que a mim mesma.

Hora de dormir que amanhã tem mais.