Há pouco menos de um mês atrás compramos um colchão novo. O colchão antigo que nos acompanhou ainda estudantes, depois nos 7 anos em Brasília, 5 mudanças e foi palco dos primeiros banhos de sol do meu filho ficou ali, cheio de história, esquecido num canto da garagem dentro do saco plástico do seu substituto.
É uma regra do condomínio que não se pode acumular móveis, entulhos, montanhas de caixas de papelão, labradores, fogões, instrumentos musicais, pneus ou brinquedos nas garagens (esses são só alguns exemplos e de maneira alguma remetem ao que se vê nas garagens dos nossos vizinhos). Gostamos de regras. Tentamos respeitá-las e o depósito do colchão ali seria transitório.
Entrei num grupo de estudantes no Facebook para doar o meu colchão antigo. Ensino assim ao meu filho que devemos ajudar a quem precisa. Ele fazia questão de ver o colchão ser levado pelo novo dono. No texto do anúncio eu dizia que a prioridade seria dada a quem o retirasse o mais rápido possível.
Entre tantos interessados na doação, um deles poderia buscar o colchão hoje. "TINHA QUE SER HOJE", porque somente hoje ele estaria com a "FIORINO DA FIRMA". Mas ele somente poderia vir ao final do turno de trabalho, tarde da noite. Um trabalhador com filho ainda bebê que às 22:00 ainda está com o uniforme "DA FIRMA" se preparando para ir para casa no inverno dormir num colchão inflável.
Não perguntei qual era a firma. Não me interessava. Era apenas alguém para quem um colchão de molas com 10 anos de idade faria muita diferença.
No entanto a firma era a NET. E carro da NET não entra no condomínio fora do horário pré estabelecido. E funcionário uniformizado da NET também não entra, nem explicando que vai sair carregando um colchão. Pelo jeito nem se fosse um amigão meu com o logo da Net na camisa.
Ah, mas é claro que ninguém nesse condomínio pode ser amigo de um funcionário da NET.
Eu já fui cliente da NET (quem nunca?). Apenas por acaso cancelamos o contrato essa semana trocando pela Vivo. Eles estiveram em minha casa duas vezes nessa semana, respeitando o horário dos prestadores de serviço. É a regra.
Não somos desonestos. Se eu pedi liberação para o rapaz subir para retirar o colchão eu juro que não estou recontratando a NET na calada da noite. Estou doando um colchão a quem precisa e não é fácil transportar um colchão daquele tamanho.
Espero que a senhora possa rever as imagens das 475 câmeras fiscalizadoras para ver a mim e ao meu marido quase 22:00 descendo a rua aos poucos, carregando um colchão pesado, com meu filho de 3 anos atrás, às vezes ao lado e outras sendo carregado por cima do colchão.
No meio da descida cruzamos com funcionários de uma empresa de festas (mas ué, não são também prestadores de serviços?!) subindo condomínio adentro com peças de uma cama elástica de uma festa infantil que estava acabando. Nesse país as regras nunca são para todos, certo?
Tentamos fazer a nossa parte.
Desejamos uma boa noite de sono ao novo dono do colchão.
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