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quinta-feira, 28 de março de 2013

Acidentes por ingestão cáustica: precisamos conversar sobre isso.


Após a minha postagem sobre crianças esquecidas em carros, a Roberta do "MMQD" sugeriu uma pequena sequência sobre acidentes domésticos e o tema desse segundo post é outra sugestão dela.
Demorei (mais do que devia) para escrever, mas finalmente saiu.
 
 
Ingestão Cáustica

A ingestão cáustica é um acidente doméstico relativamente frequente nas emergências de Pediatria. O HC de Uberlândia/MG registrou, em 2010, 37 ocorrências do tipo envolvendo crianças, sendo 13 delas graves.
 
Para sorte dos pequenos, a maioria desses acidentes é de pouca gravidade, quando a criança interrompe imediatamente o processo ao ter contato com o produto na boca, resultando apenas em queimadura local. No contexto das ingestões cáusticas o acidente é chamado de "leve", embora esse tipo de queimadura possa ser bem grave, dependendo da área acometida.
Apesar de não deixar sequelas, qualquer contato de pele e mucosas com substâncias cáusticas, mesmo em pequenas quantidades, pode levar a irritação local e ardência importante, dor intensa, lacrimejamento, salivação excessiva e dificuldade para deglutir.
 
Infelizmente um número ainda significativo dos acidentes é do tipo grave, podendo causar sequelas para a vida toda e inclusive levar à morte por perfuração do esôfago e suas complicações.
Os acidentes mais severos são os ocasionados pela ingestão da soda cáustica pura, utilizada por algumas famílias para a tradicional produção de sabão caseiro. Entretanto, diversos produtos comerciais levam a soda na composição, podendo causar lesões semelhantes. Os produtos "cáusticos" são básicos (pH alto), mas há produtos ácidos (pH baixo) que ao serem ingeridos causam queimaduras químicas graves muito semelhantes. Um exemplo é o ácido fluorídrico presente em polidores de metais e vidros,
 
A maioria dos acidentes desse tipo ocorre em casa (ou na casa de parentes e cuidadores) pela ingestão de produtos deixados ao alcance das crianças principalmente nos primeiros anos de vida, quando a curiosidade está exacerbada. Apesar de saberem que esses produtos são nocivos, a maioria das mães não costuma ter idéia da gravidade das lesões ocasionadas e nem das consequências delas a longo prazo.

Quais as consequências?
 
Os primeiros sintomas são dor intensa e edema (inchaço) em boca e garganta, dor no meio do tórax e no estômago, dificuldade para falar, falta de ar e vômitos. Eles podem ter início em alguns minutos ou mesmo após mais de uma hora do acidente.
 
Após uma ingestão grave, nos primeiros 3 a 4 dias o esôfago passa por um processo inflamatório intenso e sofre uma série de complicações, que incluem um rápido processo de necrose e infiltração bacteriana (infecção). Nessa fase podem ocorrer as complicações agudas. A ausência delas, no entanto, infelizmente não significa que a criança está livre de complicações nas semanas seguintes.
A partir do 4o dia e durante primeiras três semanas após a lesão, a mucosa do esôfago descama e o órgão torna-se frágil, com maior risco de perfuração até o 15o dia.
Após a terceira semana, podendo prolongar-se por anos, fase de cicatrização, com estenoses (fechamento) do esôfago, dificuldades de deglutição, tração do estômago para o tórax e câncer esofágico.
 
Nos casos graves, com perfuração e/ou estenose de esôfago, é comum que o paciente necessite de sondas para alimentação e também da realização de gastrostomia, quando um buraquinho é feito na pele para alimentar a criança por uma sonda que vai direto para o estômago. Pode ser necessário substituir o esôfago. A criança nessa condição pode demorar muito tempo para voltar a ingerir alimentos sólidos, e será submetida a diversos procedimentos e internações.
 
A figura abaixo traz uma radiografia contrastada de um esôfago que sofreu estenose. Observe o lado direito: o terço superior é o esôfago em seu calibre normal e os dois terços inferiores o órgão estenosado (fechado) pelo processo de cicatrização de uma queimadura cáustica.

 
 
Esse paciente não conseguirá comer alimentos sólidos, mesmo um pedaço de fruta, pois o trajeto do esôfago ficou estreito demais. Às vezes, se o órgão puder ser preservado, são necessárias diversas sessões de dilatação para permitir uma dieta um pouco mais próxima da normal.
Como prevenir?
Selecionei algumas dicas sobre como evitar esse tipo de acidente.

Ah... Claro que isso nuuuunca vai acontecer com a gente, né?! Mas não custa criar alguns hábitos de prevenção:

 
  1. Deixe os produtos de limpeza em armários trancados, de preferência elevados e longe do alcance de crianças. Não subestime a capacidade delas de subir em banquinhos, escadas e escalar prateleiras.
  2. Jamais armazene produtos tóxicos próximos a alimentos. Seu filho ainda não sabe diferenciar um do outro!
  3. Se possível,não tenha em casa produtos como soda cáustica, ácidos e pesticidas. Esse é, sem dúvida, o meio mais seguro de prevenção.
  4. Nunca reaproveite frascos de bebidas e alimentos ou embalagens coloridas e atraentes para armazenar produtos tóxicos. Muitos acidentes são causados porque o produto tóxico estava fora da embalagem original e numa embalagem familiar à vítima, como garrafas ou latas de refrigerantes.
  5. Solicite que todos os parentes, vizinhos e amigos com quem você eventualmente deixa seu filho tomem as mesmas providências. Confira pessoalmente. A ingestão pode ocorrer na casa de um cuidador. De nada adianta nossa casa estar toda preparada se a criança estiver passando o final de semana na casa dos avós.
  6. NÃO IGNORE A POSSIBILIDADE DE ISSO ACONTECER COM VOCÊ. Esse é o maior erro por trás da maioria dos acidentes.

Essa figura, bem rodadinha no Facebook, ilustra muito bem os perigos da curiosidade infantil:
 
 
Mas e se acontecer?
Nunca vai acontecer com a gente, certo?! Mas é sempre bom saber pra não fazer errado...
  1. Remover resíduos sólidos (cal, soda) se ainda estiverem presentes. O contato desses resíduos com água pode agravar as queimaduras)
  2. Lavar o local atingido com água corrente. Pelo menos 15 minutos.
  3. Procurar serviço médico imediatamente. Lembre-se que mesmo que os sintomas no início pareçam leves, pode haver consequências a médio e longo prazo.
  4. NÃO PROVOCAR VÔMITOS: Ao contrário do que muita gente pensa, se provocamos vômito a substância nociva passa mais uma vez pelo esôfago, aumentando a gravidade da queimadura.
  5. Manter a criança em jejum
Quais os produtos perigosos?

Seguem alguns exemplos de produtos cáusticos domésticos, alguns de uso bem frequente:

Tinturas para cabelo com oxidantes:

 
Cremes depilatórios:
 
 
 
Removedores de ferrugem:

 

Produtos para limpeza de forno e fogão:

 
Desentupidor de esgotos, pias e ralos:

 
 Polidores de metais:

 
Limpa vidros:
 

Alvejantes e descolorantes:


Amaciantes para roupas:


Detergentes (líquidos ou em pó):


Cal:

 

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