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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Porque não levei meu filho na campanha de vacinação.

Resolvi (lutar contra meu TOC) interromper a cronologia das postagens para não perder a chance de escrever quando algum tema vem à cabeça.  

No ultimo sábado (16/06/2012) teve início mais uma campanha de vacinação contra a poliomielite. E…  eu não levei o meu filho!


OK, é recomendação do Ministério da Saúde E da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que todas as crianças menores de 5 anos devem ser vacinadas nas campanhas, eu sei. Mas, como bem disse um colega, recomendação não é lei e devemos refletir sobre elas, principalmente quando acumulamos as funções de mãe E profissional de saúde, nessa ordem.

Deixo claro aqui que de forma alguma sou contra as campanhas, a Medicina Preventiva e a Saúde Coletiva. Acho que as campanhas são muito importantes para manter o país livre de doenças erradicadas (como a poliomielite)  e de epidemias de outras, como rubéola, meningite e as demais que motivam campanhas. Além disso, são um ótimo momento para identificar crianças com vacinação desatualizada, porque a mãe pode não dar a mínima para o cartão de vacinas do filho, mas se a Rede Globo mandar vacinar, ela vai, e a gente aproveita e atualiza.  
Porém, analisando o caso específico do MEU FILHO,  considerei que esse não era o momento para uma dose de VOP (Vacina Oral contra a Poliomielite – ou “Sabin”) e faltei ao encontro com o Zé Gotinha.
Minha opinião PESSOAL sobre as campanhas de VOP é que elas são tão "maciças" que perdem um pouco da coerência. Quando uma ação é muito massificada, ela costuma perder a chance de considerar as particularidades entre os indivíduos… O que pode ser (o mais prático) bom para a Saúde Coletiva, mas não é o que desejo para o MEU FILHO.

Todas as informações citadas a seguir sobre a VOP constam do Manual de Normas de Vacinação da FUNASA/MS, mais precisamente das páginas 27 e 28.

REAÇÃO VACINAL: “Podem ocorrer quatro a 40 dias após a vacinação acidentes pós-vacinais (paralisias flácidas), na proporção de um caso em cada 2.390.000 primeiras doses e um caso para 13 milhões do total de doses aplicadas.”

Significa que é rara, certo? Raríssima. Principalmente depois da primeira dose. Como pediatra, tive chance de ver dois casos, ainda na residência, porque esses pacientes iam parar no HC mesm. Mas pergunte para a mãe da criança 2.390.000 o que ela acha disso… A estatística é com base em DOSES APLICADAS, e não em crianças vacinadas. Ou seja, quanto mais doses, mais risco, embora ainda raro. Claro que a vacina é super importante, faz parte do calendário básico, e não deixarei meu filho sem a vacina. Mas considero que uma criança NO MEIO DAS DOSES desse calendário não precisa ser exposta a mais uma.

ESQUEMA BÁSICO: “Esquema em vacinação de rotina: três doses a partir dos dois meses de idade, obedecendo a um intervalo de 60 dias entre as vacinações. Uma quarta dose deve ser aplicada aos 15 meses de idade. O intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias”. 

Juro que já vi, tanto no SUS quanto em consultório particular, crianças que receberam a dose de rotina no meio da semana e a dose da campanha no final de semana, DA MESMA SEMANA. A maxima foi uma criança que vacinou no domingo com o Zé Gotinha e na segunda voltou ao Posto para a rotina: DUAS DOSES EM DOIS DIAS. Ah, gente, isso não faz o menor sentido… Isso é tratar a pobre criança como um número numa meta de campanha. Sim, porque o funcionário que está ali a aplicar as gotas tem a ordem de VACINAR GERAL, sem nem olhar quando foi a última, ou quando será a próxima dose, por causa dessa regra:  “Em campanhas maciças, a vacina é administrada nas crianças com menos de cinco anos de idade, independente do estado vacinal prévio.” Legal para a Saúde Coletiva, né? Mas não para o MEU FILHO.

Resumindo a situação particular aqui de casa: O Vinny havia recebido a VIP (Vacina Inativada/Injetável contra a Poliomielite, ou “Salk”), aquela que se faz em clínicas (fiz no Sabin) na segunda feira, dia 11, ou seja, 5 dias antes da campanha…  É, Vinny, não foi dessa vez que você conheceu o Zé Gotinha. Mas não faltarão oportunidades.
O Ministro da Saúde determinou que a VOP será substituida pela VIP a partir de agosto (Leia aqui), mas isso é motivo para outro post.

OBS: Dedico esse post a algumas queridas coleguinhas aqui do DF que acreditam que ser pediatra e mãe é a mesma coisa...

2 comentários:

  1. Ju:

    Ler seu post foi um grande alívio para mim, porque eu também estava pensando em não dar a VOP para a Penelope pelo mesmo motivo , qual seja : não há como saber se a minha filhota não será a azarada que desenvolverá a Polio pós vacinal, e ela tomará essa semana a vacina de 4 meses pentavalente particular, com o virus inativado. Eu também já vi dois casos, um na Unicamp e outro em Jundiaí. Hoje mesmo eu estava pensando e me achando muito surtada de imaginar sempre o pior, até me sentindo culpada por estar "furando" a campanha do governo, mas vejo que não sou a única e que essa atitude realmente tem fundamentos ... Beijo!

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    1. Ah, Lu, na minha opinião não tem porque vacinar os menores de 2 meses na campanha, porque estarão expostos ao risco sem garantir imunidade, e nem "revacinar" quem está no meio do esquema básico, com Sabin ou Salk. Sabemos que fazem isso pra "espalhar" a Sabin via vacinação de rebanho, né?! Posso até responder assim numa prova, mas jamais iria expor meu filho a isso. Não se sinta culpada nem furando nada não... Vc apenas refletiu a respeito... Eu trabalho em UBS, mas nunca participei das campanhas de VOP porque checaria os cartões e não vacinaria de novo um bebê recém vacinado!! Quando eles estiverem mais velhinhos a gente leva...

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