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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma nova chance. (ou G2P0A1)


Ou ainda: Sobre porque não divulguei minha gravidez no Facebook.

Na escrita médica, uma mulher que engravida pela primeira vez é G1. Se o bebê nasce G1P1. Se evolui com aborto é G1P0A1. NA sua segunda gestação será G2P0A1, e assim por diante.
Nunca havia pensado muito sobre isso. Mas o que acabei percebendo é que esse “A1” acaba mudando tudo. Ele é passado, mas não sai da vida da pessoa. E isso porque o meu aborto foi precoce, espontâneo, não tinha gênero nem nome, e eu não precisei escondê-lo de ninguém. Poderia ter sido bem pior.
O fato é que ao se descobrir grávida pela segunda vez, após 5 meses, a detentora do título de G2P0A1 (no caso eu) jamais conseguiria reagir como as outra mulheres. Como quando era apenas G1. Como a sociedade espera.

Quando em 10 de agosto de 2011, no banheiro do postinho, eu vi as duas fitinhas vermelhas naquele teste de urina que fiz só por desencago de consciência, com um dia de atraso numa menstruação que sempre atrasava, eu não pulei de alegria nem chorei de emoção. Difícil alguém assumir isso, mas eu entrei em pânico. Eu chorei de medo.  Não estava sentindo nada, não estava esperando, não estava tentando como as pessoas tentam.  Não estava pronta para passar por tudo aquilo de novo.
Dessa vez não pensei em escrever cartinha, comprar sapatinho e fazer uma surpresa para o marido. Liguei para minha mãe aos prantos e confesso que não era choro de felicidade. Eu estava apavorada. Passei no Sabin lá de Recanto das Emas mesmo pra fazer o Beta e fui pra casa. O marido ligou no caminho, contei. Ele não ficou feliz. Ele também tinha medo. Tínhamos muito medo.

Não esperem que a mulher marcada pelo "A1", se tiver metade dos pés no chão,  reaja como as outras quando descobre a sua segunda gravidez.

Meu Beta estava baixo daquela vez em março, 300 e pouco com 5/6 semanas. Nesse dia veio 382, com 4 semanas e um dia. Era maior, mas não era o suficiente pra mim. Devo ter feito uns 4 exames depois desse, só par aver o número subir… Só parei porque percebi que era loucura.
(A minha mãe) Quem na ocasião do aborto falava que a gravidez iria para frente e tudo ia dar certo, agora chamava o episódio de “apenas uma gravidez bioquímica”, tentando minimizar tudo o que eu havia sentido.

Tive medo de que a gravidez não terminasse bem durante quase todos os dias que seguiram. Primeiro o medo de acordar de novo com o sangramento. O medo de ir ao banheiro e ver sangue no papel. O medo de não ouvir o BCF no exame, o medo de não completar as 12 semanas… Enquanto todos nos queriam eufóricos, o marido e eu estávamos apreensivos. Lembro quando ele me disse, depois de ver o feto numa ultrasonografia, com formato de bebê e coração batendo: “Se a gente perder o Buguinha dessa vez, eu vou ficar muito, muito triste”. Teve inúmeras crises de asma. Por semanas, ele assustava cada vez que recebia um telefonema meu.
Então veio o medo de começar a comprar as coisas. Medo de contar para as pessoas. Medo de escolher o nome e ao invés de perder “um feto” perder “o Joãozinho”. É diferente o que você sente por um e pelo outro.

Eu tive medo de perder a gestação até quase o dia do chá de fraldas, que aconteceu menos de um mês antes do parto.

Fui repreendida por não ter ligado para as pessoas para contar a novidade. Por não ter (pasmem!!) anunciado no Facebook.

Quem tinha que saber, soube rápido. Quem esteve comigo, mesmo que de longe, no episódio anterior teve direito à notícia. Mas quem esteve longe, eu deixei mais distante ainda. Uma distância que com o passar do tempo confesso que ficou até confortável.

Não sou assim (dessas que colocam foto do Beta positivo no Facebook). Nunca fui assim com as coisas estritamente pessoais. E isso antes de eu ganhar meu rótulo  vitalício de “A1”.

3 comentários:

  1. Pois é, Ju, eu também sou "A1"... e sofri até as 12 semanas, hoje sofro a cada semana sem poder fazer um USG ou ouvir o BCF. O consolo é que, nesta 3a gravidez, comecei a sentir os chutes antes, então já fico feliz só de sentir os cutucões na barriga que nem aparece.

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  2. Obrigada por este texto. Tbm sou A1 e, agora, na G2 (7 semanas completas hoje) estou muito apreensiva. Não olho mais coisinhas de quarto de neném, na internet. Não penso no nome, no sexo, no padrão de cores do papel de parede, em nada. Na G1 foi assim. Vivia na internet, sonhando. Agora, só anseio pelo próximo US. Sexta feira agora, fiz meu primeiro US e ouvi o coraçãozinho do bebe. 150 bpm. Muito diferente do primeiro, que estava em 86. Foi um alívio inexplicável que, logo logo se transformou em nova ansiedade pelo próximo US...
    As pessoas julgam esse meu sentimento. Dizem que tenho que estar feliz e não com medo. óbvio que estou feliz. Mas, também é óbvio que estou com medo.
    Obrigada, de novo, por este texto.

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    1. Pois é... eu virei G4P2A2 agora... meu medo nunca acabou. A terceira eu comemorei, pensei que não aconteceria de novo e pah, lá veio o sangramento mais uma vez. Não ligue para as cobranças. Não são todas que entendem que um Beta positivo não significa a certeza de um bebê no colo. Fique bem e boa sorte para vocês dessa vez! Força!!

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