Entre os momentos da pediatria que mais me agradavam desde a residência, merecia destaque a consulta em que orientamos as mães sobre a introdução da alimentação complementar. Trata-se da consulta de puericultura (Aqui em Brasília tem o nome besta de "CD" - Crescimento e Desenvolvimento) que precede o 6o mês completo.
Infelizmente, o xiitismo da pediatria muitas vezes nos faz perder o momento certo, que não muito raramente ocorre antes dos 6 meses completos, inclusive aqui em casa (leia aqui). Nesses casos, às vezes por pura falta de orientação, outras por preguiça mesmo, ocorrem erros grotescos. Exemplo? Danoninho® como o primeiro alimento complementar de um bebê de quatro meses. Juro que não estou inventando!! Minha amiga Paolla do Mamãe Pediatra pode confirmar.
Começar a introduzir alimentos para um bebê não é fácil. Dá um trabalhão e é muito frequente que tenhamos que mudar a alimentação da família para que o bebê possa aprender a comer de forma mais saudável que os pais. Afinal, não desejamos que eles herdem nossos vícios, certo?!
Seguem algumas dicas básicas para podermos começar da maneira mais correta:
- Alimentos devem ser preparados inicialmente na forma de papas ou purês, oferecidos com colher, sempre na consistência mais espessa que a criança aceitar.
- Evite usar liquidificador ou processadores (mas eu acabei usando muitas vezes meu mini processador, porque o Vinny, aos 5 meses, estava engasgando). Prefira amassar.
- A introdução de alimentos deve ser gradual, de preferência um item novo por vez, repetido em duas ou três refeições antes da introdução do próximo. DICA DA JU: Faça uma lista dos alimentos já introduzidos, se possível com apontamentos do tipo "prendeu o intestino", "cólicas", etc.
- Tudo o que você já deu pode ser repetido nos outros dias. Apenas os alimentos ainda não oferecidos devem respeitar o limite de uma "novidade" a cada um ou dois dias. As anotações te ajudarão a não oferecer dois alimentos que prendam o intestino no mesmo dia, por exemplo. Também facilitam a vida se houver mais gente revezando os cuidados com o seu bebê.
- A partir do início da alimentação complementar devemos oferecer água filtrada à criança com frequência, pois os novos alimentos causam sobrecarga de solutos nos rins.
- Continue oferecendo o seio ou fórmula infantil em livre demanda, até que a alimentação esteja bem estabelecida.
- Use apenas óleo vegetal (oliva, girassol, soja, canola), sal em pequena quantidade e temperos naturais. Nunca use temperos prontos, pois apresentam excesso de sódio.
- Evitar: chás, sucos açucarados, leite em pó erroneamente diluido e/ou acrescido de farináceos, sopas diluidas, entre outros.
- Não acrescentar leite ou açúcar aos alimentos visando melhorar a aceitação.
- Não compare! O tempo de aceitação de alimentos e o volume consumido podem variar muito entre o seu filho e o da sua amiga.
Comece introdução pelas frutas. Por serem adocicadas, são mais facilmente aceitas no período em que o bebê precisa aprender que a dieta será oferecida em colheres além do seio ou mamadeira. A primeira fruta que o Vinny comeu foi pêra.
Os sucos devem ser oferecidos preferencialmente após as refeições principais, e não em substituição a elas. A dose máxima de sucos deverá ser de 240 ml/dia. Lembre-se que estômago cheio é estomago saciado. Ou seja: se seu filho tomar muito volume de suco (ou de uma sopa diluida), acabará sem fome depois. E o valor nutricional não é o mesmo: 10 ml de suco contém muito menos nutrientes e calorias que o mesmo volume de papa.
Enquanto a aceitação do bebê não for satisfatória, ofereça o seio ou fórmulas após as refeições.
Após introduzidos vários alimentos, as papas salgadas devem conter ao menos um alimento dos seguintes grupos:
A) Tubérculos ou cereais - fontes de carboidratos: batata, mandioca, batata baroa (mandioquinha), cará, arroz, macarrão, etc
B) Leguminosas - fontes de proteínas vegetais: feijão, soja, ervilha, lentilha, grão de bico, etc.
C) Proteína animal: carne de vaca, frango, ovos, peixe.
D) Legumes: cenoura, beterraba, berinjela, chuchu, abobrinha, etc.
E) Verduras - fontes de fibras: couve, espinafre, brócolis, escarola, repolho, etc.
É normal que o bebê não aceite no primeiro contato alguns (
Não é porque sua família não consome verduras, ou determinados alimentos como por exemplo grão de bico, que eles não devem ser ofertados ao bebê. Lembre-se de não transferir ao seu filho gostos e vícios alimentares que são seus.
Respeite SEMPRE o tempo de adaptação aos novos alimentos e os volumes a serem consumidos, permitindo a atuação dos mecanismos regulatórios de apetite e saciedade. Esses mecanismos devem ser respeitados desde a introdução dos alimentos, evitando interferir negativamente na capacidade de auto-regulação da ingestão alimentar. Em poucas palavras: o bebê não precisa "comer tudo" somente para saciar nossas frustrações maternas. Ele come o quanto a fome dele mandar.
Embora seu filho pareça comer bem em algumas refeições e mal em outras, evidências sugerem que o consumo energético em 24 horas costuma ser adequado. Atitudes extremamente impositivas podem induzir ao hábito de se comer mais do que o necessário, contribuindo para o desenvolvimento da obesidade infantil.
A percepção correta das sensações de fome e saciedade é condição imprescindível para a nutrição adequada.
Boa sorte pra nós.
FONTE CONSULTADA: Manual de Orientação - Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Eu sei que não podemos transmitir alguns gostos/vícios pras crianças, mas... não consegui dar jiló pra Denise. Juro que tentei. Mas eu fujo da mesa só ao sentir o cheiro do negócio. E quiabo foi o mesmo fiasco, eu adoro, mas o pai abomina, aí não dá pra disfarçar a cara dele. Ainda bem que ela gostou das outras verduras/legumes.
ResponderExcluirOi Paolla!! Eu e meu pai adoramos sabores amargos. Então ele fazia salada de jiló com muito limão e comíamos juntos. Sabe como ele já fez também? Empanado!! Fica gostosinho. (mas lembre-se que eu gosto dos amargos!). ARGH!! Odeio quiabo!!!
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